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Não Vasculares Líquenes

Líquenes - Terão sido provavelmente os primeiros organismos a aventurar-se em terra firme, abrindo caminho primeiro a musgos, hepáticas e antocerotas e depois às plantas superiores. Porém, os registos fósseis são raríssimos devido à fragilidade destas espécies, o que torna difícil perceber em que época da história geológica terão de facto surgido. Um dos fósseis mais antigos descoberto até ao momento é oriundo da China e data de aproximadamente seiscentos milhões de anos.

Embora pertençam ao Reino dos Fungos, de acordo com a divisão de R. Whittaker, tratam-se de organismos fotossintéticos, resultantes da relação simbiótica entre uma alga verde ou cianobactéria e um fungo. O fungo (micobionte) fornece suporte, protecção, sais minerais e água à alga (fotobionte), que por sua vez produz por meio de fotossíntese os nutrientes dos quais o fungo se alimenta. Existem a nível mundial cerca de dezassete mil espécies de líquenes.

 

A importância ecológica destes simbiontes é extrema. Uma floresta sem líquenes é um mundo em processo de esterilização, e não apenas pela singularidade e riqueza visual que emprestam à paisagem e que tanto tem cativado pintores, fotógrafos e escritores ao longo dos séculos, mas principalmente porque os líquenes dão guarida a uma enorme variedade de insectos e invertebrados, que correspondem ao segundo nível trófico da cadeia alimentar, ou seja, que sustentam diversos outros animais, sobretudo aves. Para além disto, os líquenes atraem insectos polinizadores, nomeadamente traças. Há que salientar que os líquenes são epífitos autotróficos, produzem o seu próprio alimento através de fotossíntese, não parasitando o arvoredo que os alberga. Em adição, pela sua sensibilidade a factores como a poluição atmosférica, chuvas-ácidas e químicos industriais e agrícolas, tornam-se biomonitores eficazes. Um ambiente poluído produz menor número de espécies e também menor quantidade.

 

Mecanismos de reprodução -  Os líquenes reproduzem-se por esporos ou vegetativamente. Grande parte pertence à categoria dos Ascomycota e, à semelhança destes cogumelos, também os seus esporos são produzidos no interior de uma estrutura própria em forma de saco, denominada ascus. O ascus contém o ascoma, o corpo frutificante, sendo que este pode apresentar diversas formas e variadíssimas cores. Existem líquenes com peritécia, ou seja, espécies em que os asci se encontram marginados por uma estrutura protectora, o que lhes confere um aspecto quase esférico, e existem líquenes com apotécia, uma estrutura que abre para expor o ascus que se encontra no interior. Estes últimos podem apresentar ou não uma margem talosa, que os molda em forma de  taça. Existem igualmente líquenes da categoria dos Basidiomycota e, tal como estes cogumelos, produzem esporos no exterior de uma célula designada basidium, que é comportada pelo basidioma. No caso da propagação vegetativa, os líquenes produzem propágulos de dispersão anemocórica ou hidrocórica. Estes propágulos contêm hifas do fungo, que atravessam toda a zona medular, e células da alga ou cianobactéria, podendo ser de dois tipos, sorédia ou isídia. No primeiro caso o propágulo é formado por pequenas parcelas macias desprovidas de córtex; no segundo formam-se excrescências com córtex.

 

O tipo de fungo envolvido na simbiose é que determina a divisão a que o líquen pertence (Ascomycota ou Basidiomycota). A presença de uma alga verde como segundo componente ocorre em cerca de noventa por cento dos casos, nos restantes verifica-se a parceria com uma cianobactéria com grande capacidade de fixação do nitrogénio. Devido à grande necessidade de nitrogénio, muitas vezes o líquen desenvolve uma estrutura própria, uma cefalódia, para albergar uma cianobactéria como fotobionte secundário, daqui resulta que na maioria dos casos os líquenes são uma simbiose a três.

 

Morfologia -  Para além de epífitos, os líquenes podem ser epilíticos, isto é, podem viver tendo como suporte o substracto rochoso, e apresentam cores e formas muito variadas, achando-se principalmente nos meios húmidos e sombrios, mas também em locais soalheiros, isoladamente ou em associação com pteridófitas e musgos, para os quais abre caminho nas rochas e nos ritidomas das árvores. O fungo, como responsável pela fixação do líquen ao suporte, encontra-se principalmente nos tecidos inferiores (protalo) por vezes visíveis da zona distal, enquanto a alga, assente sobre uma camada medular intermédia, compõe os tecidos superiores mais expostos à luz solar e é observável sobretudo a nível do talo, podendo ou não achar-se coberta por um córtex. As cefalódias, estruturas que albergam a cianobactéria, quando existem, correspondem geralmente a zonas mais escuras ou a manchas circulares no talo. Os ascocarpos correspondem às zonas de frutificação acima descritas (peritécia e apotécia).

 

Na Vila de Parede, os líquenes existentes encontram-se associados aos lódãos-bastardos, às mélias, às árvores-da-chuva-dourada, aos muros e telhados antigos e às arribas costeiras onde a percolação de água-doce através dos calcários cria um habitat ideal, permanentemente húmido.

 

 

 

 

 

 

  
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