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Herbário - Território - História - Ruderal - Bibliografia

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Parede – Clima e Solo

 

Percorrida por ventos de N e NE inferiores a 6ms-1 nos meses de Primavera e Verão, e por ventos por vezes superiores a 15ms-1 de SW nos meses de Outono e Inverno, a região de Cascais corresponde a um clima termomediterrânico superior e a um ombrotipo sub-húmido inferior.Como zona de charneira entre o Mediterrâneo e o Atlântico (38ºN 9ºW), Portugal apresenta grandes variações climáticas ao longo do ano. No Inverno, o anticiclone dos Açores desloca-se até 30ºN, permitindo a entrada de massas de ar húmido marítimo de origem polar e criando um corredor N-S percorrido pelo frio setentrional. Nos meses quentes, move-se até latitudes mais elevadas (45ºN), expondo o território continental português a massas de ar anticiclónicas sub-tropicais [Brito, 1994], originando no litoral estremenho um bioclima sub-hiperoceânico acusado.

A luminosidade e a pluviosidade na região litoral-centro são acentuadas pela presença do Maciço Antigo (Maciço Hespérico) a Norte. A Serra de Sintra, por seu lado, cria um micro-clima termomediterrânico inferior e um ombrotipo sub-húmido superior, ao reter massas de ar húmidas vindas de N-NW, o que dá início a uma vegetação diferenciada, principalmente na vertente oeste, mais húmida e mais exposta aos ventos de N e NW.

A precipitação média anual na Vila de Parede varia entre os 600 e os 800 mm e ocorre maioritariamente de Outubro a Maio, sendo rara ou mesmo nula entre Junho e Setembro. As temperaturas podem oscilar entre 1ºC no Inverno, com geadas frequentes, e os 40ºC no verão, estando a temperatura média anual na ordem dos 17ºC. A Costa do Estoril, localizada a sul da Serra de Sintra, apresenta em média mais 2ºC do que a vertente Norte (concelhos de Sintra, Mafra e Torres Vedras), mais exposta ao frio setentrional. 

A nível orográfico, a região litoral de Cascais apresenta uma curva de nível inferior a 90m, formando uma paisagem ondulada, pautada essencialmente por cambissolos, ou seja, solos não muito profundos, argilo-calcários, assentes em substracto rochoso, correspondendo a formações sedimentares detríticas, como aliás sucede em quase toda a Estremadura e Algarve, em resultado da orogenia hercínica que formou o Maciço Antigo que cobre grande parte da Península Ibérica desde o Paleozóico. A baixa acidez destes solos permite que neles vivam espécies como o pinheiro-de-alepo, o rosmaninho e a íris. Na região a Norte da Serra de Sintra, também a pedologia se altera no Maciço Vulcânico de Lisboa, onde predominam solos mais profundos, muito ricos em matéria orgânica e portanto mais ácidos, facto que se traduz na abundância de géneros como a dedaleira (solos ácidos e siliciosos), o tojo e a urze, sendo estes muito raros na Costa do Estoril.

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Um Povoado Calcolítico...

 

A 900 metros da linha costeira, foi identificado em meados do século XX um povoado neo e calcolítico no actual Bairro Octaviano, com cerca de mil anos de ocupação, entre 3100 a 2100 a.C..

Na escavação liderada por Eduardo Prescott Vicente e Eduardo da Cunha Serrão, em colaboração com Afonso do Paço, foi pela primeira vez usado o método de Wheeler, com recurso a quadrículas e banquetas. O sítio cedeu taças carenadas, bordos dentados e copos canelados que se inserem no grupo Parede I, com um período de ocupação que vai desde cerca de 3100 a 2600 a.C., a par de um grupo Parede II, campaniforme, que vai até ao final do terceiro milénimo. Do campaniforme, de estilo marítimo aqui encontrado, sobressaem gramáticas decorativas diversas, desde as lisas até às incisas, onde predominam os pontilhados quadriculados, losangulados e compósitos (Victor Gonçalves et al., 2017). 

Inscrito no grupo do Baixo Tejo, o povoado da Parede estaria ligado ao de Leceia e a diversos casais agrícolas que se estendiam por toda a região, entre o mar e a serra. A sua importância para a compreensão do Calcolítico Final na região de Lisboa levou a que os espólios cerâmicos servissem de modelo, ao qual Konrad Spindler chamou «Parede Gruppe» (Spindler 1976).   

Um Senhorio Medieval…

O nome da vila, Parede, outrora Paredes, parece derivar precisamente da abundância de rocha calcária com que se construíram no local diversas atalaias e se muraram cabeços [Correia, 1964], para além da presença de numerosos muros de pedra seca com que era hábito parcelarem-se terrenos desde a época medieval [Colaço; Archer, 1943], muros estes que protegeram as vinhas do famoso Carcavelos até à crise da filoxera que as devastou por completo na segunda metade do século XIX. É, pois, provável que às pedreiras de Parede, e a outras da linha costeira entre Lisboa e Sintra, tenham os Romanos vindo buscar rocha para epígrafes e construções olissiponenses.

Entre os habitantes da vila do início do século XX era igualmente conhecida a história de que os pescadores tinham construído as primeiras casas junto ao que restava de uma antiga muralha senhorial, situada no fim da encosta do que é hoje o bairro de Santa Luzia, e que terá correspondido a uma antiga reserva de caça. O que poderá corresponder a um troço desta muralha, talvez já não a original, é ainda visível no término do miradouro. Chegada a ferrovia e implantada a Segunda Bateria Militar Costeira, construída juntamente com o quartel por trabalhadores vindos do Alentejo – daí a existência de um Bairro Alentejano –, a vila desenvolveu-se cada vez mais para Norte, ocupando os antigos terrenos agrícolas e a reserva de caça. A fauna e a flora viram-se desta forma cada vez mais confinadas aos ruderais que sobraram de permeio onde o betão cresceu.

A maior parte dos mamíferos e das aves já partiu há muito, contudo ainda restam algumas espécies esquivas e surpreendentes, tais como mochos, corujas, corvos, toutinegras e verdilhões, que por vezes ainda sobrevoam estes matos exíguos ou vêm pousar nos lódãos e plátanos das nossas ruas.

Área Mínima - Ruderal da 2ª Bateria Militar Costeira

 

O ruderal situado entre o antigo quartel e a área de localização, propriamente dita, da 2ª Bateria Costeira – que noutros tempos dava cobertura militar à de Alcabideche –, foi tomado como área mínima, uma vez que aqui se reúne a maioria das espécies autóctones, quer a nível da flora quer da fauna a ela associada, funcionando como último reduto de diversos taxa caracterizadores da paisagem prístina destas colinas sobranceiras ao mar.

Tratando-se do ponto mais elevado da Parede, sobre o Monte de Santa Luzia a cerca de 80 m do nível do mar, a sua temperatura é em média meio grau inferior à registada mais a baixo, à cota zero. Esta área encontra-se mais exposta aos ventos Norte e Oeste e situa-se numa zona de declive pouco acentuado do lado Este, ainda assim sujeito a uma forte erosão cujos efeitos são cumulativos. A escorrência das águas pluviais provoca o arrastamento de material orgânico de superfície, tornando estes solos pouco ricos em nitratos. Com efeito, a área em causa corresponde a um solo tendencialmente alcalino, calcário vermelho e não muito profundo, sujeito a períodos de seca estival e a enxurradas durante os meses de Outono e Inverno, estas últimas em parte devido à impermeabilização dos solos na área circundante.

Este ruderal apresenta interessantes associações fitossociológicas que integram táxones com características semelhantes, por vezes até pertencentes aos mesmos grupos taxonómicos, com perfis florísticos e ecológicos similares, como no caso concreto da íris-pé-de-cabra e da erva-toura, ambas parasitárias vasculares, embora correspondam a biotipos distintos, sendo a primeira um geófito e a segunda um terófito, e que aqui surgem frequentemente associadas a liliopsidas como o alho-selvagem, o jacinto-das-searas, o arisarum e o cebolinho-de-flor-branca, também geófitos, formando um sintáxon umbrófilo constante, replicado em ruderais próximos, o que é facilmente explicável se tivermos em conta que as vilas de Parede, Carcavelos e de São Pedro do Estoril correspondem grosso modo a uma mesma área geográfica fragmentada pela malha urbana, o que deu origem a uma distribuição descontínua da flora.

A “área mínima” apresenta algumas espécies fósseis, relíquias da paisagem natural desta zona, como nos casos concretos da ononis spp., do lagurus ovatus, da phalaris spp, da salvia pratensis, da papaver somniferum, do conium maculatum e da datura stramonium, agora inexistentes noutros ruderais e que mesmo aqui por vezes se encontram reduzidos a um único exemplar, embora tenham sido abundantemente testemunhados noutros locais da freguesia há várias décadas atrás, quando a Madorna, zona mais elevada da Parede, era ainda considerada um território de caça onde proliferavam espécies como o coelho-bravo – ainda hoje presente neste ruderal –, e a perdiz.

Assim, a zona anterior à Bateria corresponde a um tipo de vegetação actual semi-natural, tendencialmente edafoxerófila, na área mais exposta, e de sucessão regressiva, em fase de simplificação e perda de biomassa devido a alterações climatéricas e à pressão urbana. As espécies que a compõem são maioritariamente autóctones zonais ou alóctones arqueófitas, bem adaptadas a solos pobres e erosionados, e constituem-se como comunidade vivaz que se auto-substitui, sendo sobretudo terofítica e geofítica.

Observa-se uma geossérie de vegetação dividida essencialmente por quatro etapas. Do lado Sul, encontra-se um pequeno bosque climácico de pinheiro-de-alepo, vergado pelos ventos Norte, e que abriga uma comunidade perene, composta basicamente por estrepes e corrula, e outra hemicriptófita/terófita dominada pela presença do cegude. Outrora este bosque ocupava a quase totalidade da extensão da área em causa e perpetuava-se encosta abaixo, através daquilo que é hoje Santa Luzia, onde parte dele ainda subsiste, embora atravessado por espécie como o pinheiro-manso e o pinheiro-bravo. No topo da colina restam, porém, poucos exemplares. Aqui constituiu-se um bosque secundário, um pequeno eucaliptal. Avançando na direcção Norte, a primeira etapa de substituição regressiva corresponde a um mato pós-florestal vegetado igualmente por estrepes e corrula, aos quais se juntam agora diversas gramíneas como a alpista-azul, a pata-de-coelho, a mélica e o rabo-de-cão, e asteráceas como a erva-dos-moinhos, a escorcioneira, a leituga e a centáurea-parda. Este espaço pré-florestal encontra-se parcialmente ocupado por um depósito de água, em cuja parede voltada a Leste se formou um microcatena umbrófilo, composto maioritariamente por monocotiledóneas como as Hiacintáceas e as Aliáceas, em associação com a erva-toura acima referida. Na segunda etapa de substituição a vegetação rarefaz-se numa planície heliófila, onde ainda se encontram alguns geófitos como o alho-selvagem e a íris-pé-de-burro, hemicriptófitos como o funcho-amargo, caméfitos como a tádega, e sobretudo terófitos como a erva-viperina, ocasionalmente o pampilho-espinhoso, a coniza e a almeiroa. A Noroeste, a biomassa volta a aumentar devido a condições edáficas e microtopográficas excepcionais que formam dois microcatenas distintos, um numa zona de depressão do terreno onde a retenção de humidade e matéria orgânica é maior, e o outro assente sobre uma elevação abrupta, cimeira àquela, resultada da intervenção humana. O primeiro separa a planície de uma zona de declive e concentra grande número de espécies, nomeadamente o pepino-de-são-gregório, novamente o estrepes, a cenoura-silvestre, o fel-da-terra, a dormideira, a silene, a erva-toura, o gladíolo, a erva-vaqueira, o alho-de-nápoles, diversas gramíneas e fabáceas, e uma significativa abundância de Galactites tomentosa – por si só um bom indicador de maior consistência orgânica do solo e de um pH mais baixo, dado corroborado pela presença de Quercus spp. No segundo observam-se essencialmente espécies edafoxerófilas tais como o milho-miúdo, o verbasco, a alcachofra, o rabo-de-lebre, a centáurea-calcitrapa, a palha-da-guiné e o talaceiro, mas também o hipericão, formando um mato pré-florestal que culmina num bosquete esparso e muito heterogéneo, dividido por um caminho militar e composto sobretudo por caducifólias, como o freixo, a robínia, o choupo-branco, a tipuana, a amoreira, o carvalho-alvarinho e o choupo-negro, a par de outras espécies persistentes como a alfarrobeira, o pinheiro-carrasco, o zambujeiro, o folhado, a pimenteira-bastarda, o aderno e o mioporo. A Este, separado do pinhal e do bosquete pela estrada militar alcatroada, encontram-se dois outros importantes ruderais, o primeiro encabeçado pelo olmo, pela oliveira e pela amendoeira – que se encontra dividido por um típico muro de pedra seca –, e o segundo, a Sul deste, pontuado pelo lódão-bastardo. Ambos dão em parte continuidade à “área mínima”, verificando-se uma vez mais a presença de alguns sintáxones dominantes. Há ainda a assinalar a presença de ruínas – um habitat que alberga espécies umbrófilas, a par de outras igualmente adaptadas a zonas de sombra parcial e a solos pouco profundos –, e de uma vasta área de declive, separado da “área mínima” quer por vedações e antigas construções militares, quer por uma barreira natural que corresponde a um prolongamento da referida alteração microtopográfica/edáfica.

Herbário
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Flora silvestre
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Herbário Virtual da Vila de Parede

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